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Friday, August 02, 2019

Diretor do INPE exonerado por dizer a verdade

O diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, que esteve no centro da polêmica com o presidente Jair Bolsonaro sobre os dados que mostram alta do desmatamento da Amazônia, foi exonerado do cargo nesta sexta-feira, 2. A publicação ainda não foi feita em Diário Oficial, mas cientistas e a Procuradoria do Meio Ambiente já reagiram à exoneração.

 O pesquisador estava no Inpe desde 1970 e cumpria mandato à frente do órgão até 2020. Ele deixa a direção do instituto após duas semanas de intenso bombardeio por parte do governo às informações do instituto que mostram que desde maio os alertas de desmatamento da Amazônia dispararam, atingindo em julho o valor mais alto desde 2015 para um único mês. 

O desmatamento observado pelos alertas entre agosto do ano passado até 31 de julho é 40% maior do que o período anterior. A decisão, que já era esperada, foi anunciada por ele mesmo após reunião que teve com o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes. “Diante da maneira como eu me manifestei com relação ao presidente, criou um constrangimento, ficou insustentável e eu serei exonerado”, afirmou Galvão a jornalistas que estavam em frente ao ministério após a reunião. Em sua conta no twitter, Pontes mandou “abraços espaciais” a Galvão. “Agradeço, pela dedicação e empenho do Ricardo Galvão à frente do Inpe. Tenho certeza que sua dedicação deixa um grande legado para a instituição e para o país. Abraços espaciais”, escreveu. 

A polêmica começou com declarações de Bolsonaro no dia 19, quando, em encontro com jornalistas estrangeiros, ele acusou os dados do Inpe de serem “mentirosos” e insinuou que Galvão estaria “a serviço de alguma ONG”. Em entrevista ao Estado no dia seguinte, o pesquisador reagiu afirmando que a atitude do presidente foi “pusilânime e covarde”. Os dias seguintes foram marcados por várias outras manifestações de Bolsonaro questionando as informações e dizendo que sua divulgação prejudica a imagem do País. 

Ele também afirmou que queria receber as informações antes de elas serem tornadas públicas. Pontes também endossou o chefe e afirmou que compartilhava o estranhamento sobre os dados. Ele convocou Galvão a dar explicações, mas a reunião entre os dois só aconteceu nesta sexta. Na quarta, técnicos do Inpe estiveram reunidos com Pontes e também com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, para explicar como é feito o monitoramento. Após a reunião, Salles admitiu pela primeira vez, desde o início do imbróglio, que o desmatamento está em alta na Amazônia, mas voltou a falar que havia problema com os dados, como uma suposta duplicação de alertas e desmatamentos mais antigos que estariam sendo vistos somente agora. Para fazer tais afirmações, Salles comparou os dados do Deter, o sistema de detecção em tempo real do desmatamento, com imagens de um outro sistema, chamado Planet, que foram compradas pelo Ibama.

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